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Adoção da indústria 4.0 é desigual em MG

26 de maio de 2022 / Consultoria / por Comunicação Krypton BPO

Entre os entraves, a falta de linhas de financiamento específicas ainda é um dificultador para boa parte das empresas.

Termo cunhado na Alemanha, pela primeira vez, em 2011, a indústria 4.0 diz respeito ao uso massivo e integrado da tecnologia e também a uma nova mentalidade que se alinha diretamente a outras questões urgentes no mundo corporativo, como o ESG (responsabilidade socioambiental e governança), os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e as novas tendências de consumo e de atração e retenção de mão de obra qualificada.

Nesse admirável mundo que vem surgindo já há algum tempo, mas que tomou novo impulso a partir da pandemia, as indústrias mineiras também precisam se posicionar sob pena de se tornarem obsoletas e perecerem.

Também conhecida como a Quarta Revolução Industrial, a indústria 4.0 tem algumas tecnologias basilares como: sistemas ciberfísicos, big data analytic, computação em nuvem, internet das coisas (IoT), internet dos serviços (IoS), manufatura aditiva, inteligência artificial (IA) e sensores inteligentes.

De acordo com o gerente de Educação e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Minas Gerais (Senai-Minas), Ricardo Aloysio e Silva –  que tem sob seu comando o Centro de Treinamento e Desenvolvimento da Indústria 4.0 -,  em que pese a grande importância das atividades primárias na economia mineira, a atividade industrial do Estado é extremamente diversa e, por isso, há uma grande desigualdade de implantação da indústria 4.0 no território mineiro.

“Uma dificuldade básica é o baixo entendimento sobre as tecnologias e os benefícios que elas trazem. Não basta que os trabalhadores entendam, é preciso que os gestores estejam convencidos. Em Minas, como todo o Brasil, estamos nas primeiras etapas de implantação do 4.0. As empresas estão começando a implementar por setor. O movimento aqui no Estado, muito impulsionado pela Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), é nesse sentido. Esse é o correto. Temos implantação nos setores de confecção, mineração, calçados, alimentos e bebidas em empresas de diferentes portes. É certo que poderíamos estar mais rápidos. Nesse campo, o maior desafio da pandemia foi a falta de semicondutores. Não conseguimos comprar IoT. Porém a pandemia acelerou a digitalização também na indústria. O efeito disso é a falta de mão de obra na programação”, explica Silva.

E é, justamente, a digitalização que pode fazer com que as menores empresas também consigam implantar a indústria 4.0. Ela permite a conexão entre equipamentos antigos e novos. Já quando o passo é a automação, os custos são maiores e, muitas vezes, é mais barato e fácil erguer uma nova planta do que fazer a adaptação de uma antiga.

A falta de linhas de financiamento específicas ainda é um dificultador para boa parte das empresas. “Posso começar com o recurso próprio disponível, mas para avançar para tecnologias mais caras, não é possível para a maioria das empresas. Elas precisam de crédito e as linhas no Brasil são limitadas. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem, mas não cobre softwares e, além disso, tem a questão do conteúdo nacional. O BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) tem uma linha, mas não é específica para a indústria 4.0 e bancos privados cobram juros de mercado, o que costuma ser um impeditivo para muitas empresas”, afirma.

A receita para a indústria mineira escapar das dificuldades e ter sucesso na jornada da indústria 4.0, segundo o especialista, pode estar no próprio jeito mineiro de fazer as coisas “devagar e sempre” e sempre cuidando das pessoas. A quarta revolução industrial combina com responsabilidade e ética.

“Muitas empresas começam a fazer e com o ganho obtido reinvestem na implantação de mais tecnologia. Vão fazendo aos poucos. É um modelo sustentável e bem mineiro. Quando falávamos da terceira revolução era aquela coisa de automatizar e tirar as pessoas do processo. Na 4.0 é diferente. Ela nasceu com as hard skills, mas também veio com as competências socioemocionais. Hoje, na 4.0, a gente quer contratar uma pessoa com técnica e que também seja criativa, engajada, trabalhe bem em equipe. São questões comportamentais e éticas. O profissional tem que ter uma visão holística. Essa é a primeira revolução industrial que deu holofote para as pessoas”, destaca o gerente de Educação e Tecnologia do Senai-Minas.

E é, justamente, a partir das pessoas, que a Tsea, com unidade em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), conduz a sua própria revolução. Especialista na fabricação de transformadores, a empresa tem a inovação no cerne do negócio e percebeu com antecedência a força imperiosa da quarta revolução industrial sobre empresas de todo e qualquer setor.

De acordo com o CEO da Tsea, José Roberto Reynaldo Júnior, o ponto de virada da companhia para o sucesso da implantação da jornada 4.0 foi a decisão de fazer a “governança da inovação”. Isso, além dos óbvios investimentos em tecnologia, impõe o pilar “pessoas”, em que é imprescindível capacitar, motivar e engajar. Para ele, é preciso fazer emergir uma nova mentalidade corporativa que vai do CEO ao mais modesto colaborador.

“A geração de energia está migrando para a geração distribuída e para a microgeração e isso exige outras características do nosso produto. Trabalhamos para que ele possa se conectar com as tecnologias de monitoramento a distância, gerenciamento do ativo e IoT, por exemplo. Então, como liderança, trabalhamos na governança da inovação. Temos que levar conhecimento para as pessoas. Antes de declarar que somos uma empresa inovadora, os colaboradores têm que saber o que é isso. É uma série de pequenas inovações que geram um valor importante para a empresa. Para isso, existem metodologias e ferramentas específicas e deve ser feito em pequenos grupos. Dentro dessa rotina, você gera melhorias que são rapidamente incorporadas”, analisa Reynaldo Júnior.

Para ser viável, Cerâmica Brasileira precisou rever processos

Em Caetanópolis, na região Central do Estado, a Cerâmica Brasileira também traça os caminhos da sua jornada rumo à indústria 4.0. Inserida em uma cadeia produtiva extremamente tradicional, a companhia viu a necessidade de erguer uma nova planta, capaz não só de receber as inovações tecnológicas, como suportar o aumento da produção previsto e estar mais perto dos maiores centros consumidores.

Foi assim que a Cerâmica Brasileira – integrante do Grupo Emília Cordeiro –  se destacou da Cerâmica Forte, sediada em Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, e se instalou em Caetanópolis. De acordo com o diretor da Cerâmica Brasileira, Humberto Godinho Alves, ao longo do tempo a gestão da fábrica percebeu a necessidade de modernizar os processos e o produto em função das exigências do consumidor, participação no mercado, diminuição de perdas, entre outros pontos.

“Tínhamos uma fábrica tradicional, fizemos modernizações, mas concluímos que, para ser viável, teríamos de montar uma nova unidade fundamentada em tecnologia. Viajamos para a Europa para buscar as melhores tecnologias mundiais e também levantamos o local adequado para essa montagem. Precisava estar mais perto de um grande centro, onde houvesse demanda. Assim surgiu a Cerâmica Brasileira. Temos as melhores tecnologias em indústria de cerâmica do mundo e o projeto é ser uma das maiores em produção de telhas do Brasil. Estamos na segunda etapa de automação: os equipamentos já chegaram e vão começar a  funcionar em 60 dias. E a terceira etapa é a construção de fornos totalmente automatizados”, pontua Alves.

Todo esse esforço reverbera na relação com fornecedores e outros parceiros e também com os colaboradores, que precisam de uma formação adequada do ponto de vista técnico e humano.

“Muda o perfil de alguns parceiros, como por exemplo, das manutenções. Com relação aos insumos precisamos de critérios mais rigorosos, para que a gente consiga extrair desse processo a máxima eficiência, precisamos ter uma cadeia de suprimentos adequada. É um processo que puxa para cima toda a cadeia produtiva. Do outro lado, é preciso qualificar e criar condições de retenção dos talentos. Temos parcerias com Senai e dentro da empresa treinamos e capacitamos profissionais. O nosso produto é telha, mas o foco da empresa é desenvolver pessoas. A indústria 4.0 é um processo que não tem volta. Alguns setores no Brasil já estão avançados. E outros, como o nosso, ainda estão engatinhando”, completa o diretor da Cerâmica Brasileira.

Fonte: Diário do Comércio

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