É no mínimo intrigante que, quanto mais avançamos nas questões ideológicas do Compliance como a transparência, ética, mitigação de riscos, investigações internas ou meramente atributos de controle, mais nos perguntamos para que e por que são importantes estas características?
É notório que os termos e políticas de Compliance acentuam, e muito, a crescente importância dos “Compliance Officers”, que, na sua grande maioria, ainda figuram como profissionais do ramo do Direito, como se somente a conformidade legal fosse importante nas organizações.
Porém, existem muitos outros elementos a serem discutidos com o intuito de que a “materialização do Compliance” ocorra. Contudo, fatalmente isso não acontecerá por força de pressões externas ou aumento de leis, tampouco por códigos internos ou manuais de boas práticas de gestão.
Estamos nos esquecendo de alimentar a mais forte “chama” de todas, aquela que é situação predecessora à qualquer outro elemento ou pilar de Compliance: falo do ser humano, como Ser. É preciso alimentar a solidariedade, a bondade, demonstrar a vida real e a cores para que possamos avaliar a reação das pessoas quando motivadas a entender questões além da corporação, como foi demonstrado pelo repórter Caco Barcelos em seu resumo dos “10 anos do programa Profissão Repórter”.
Estive recentemente em um dos maiores eventos do Brasil de Compliance, o 7º Congresso Internacional de Compliance, realizado em São Paulo pelo LEC – Legal Ethics Compliance. Por lá passaram muitos profissionais relevantes deste mercado, figuras públicas de notório saber, a programação foi cercada por palestras, painéis e workshops, o entendimento não se modifica.
E o que chamo de entendimento seria desafiar o óbvio, uma vez que estamos tratando as consequências e não as causas, e nossas causas para o excesso, digamos excessivo de normas, está sendo aumentado e não podemos tornar o respeito pelo próximo algo protocolar como uma norma.
É preciso ter cuidado nos avanços e nos controles. É preciso entender que seres humanos cometem erros, que erros servem para o amadurecimento, que nivelar todas as pessoas e todas as coisas por aspectos legais nivelará o mundo corporativo ao mundo robótico, sem emoções.
Não digo que os anseios por uma sociedade melhor não passam por Compliance, apenas alerto que, se chegarmos ao momento em que não dar “bom dia” seja entendido como assédio moral, todas as coisas estarão perdidas.
Há pessoas do bem e a única coisa que peço é reflexão. Deixem as tratativas humanas para os humanos e tenhamos bom senso para entender erros, pois como ilustremente foi dito por um dos palestrantes do evento citado, que solicitou anonimato: “enquanto não reduzirmos o ambiente de pressão e a burocracia, não reduziremos as causas e eternamente estaremos falando das consequências”.
Peço aos ilustres profissionais de Compliance que entendam que há dias de sol e de chuva para todas as pessoas e nosso principal desafio é atuar dentro dos pilares, considerando a flutuação da vida de qualquer ser humano.
Façamos nosso trabalho com propósito porque havendo propósito haverá muito mais sentido! Evitemos os “excessos excessivos” e chegaremos perto da perfeição.
Fonte: Terra
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