Muitas vezes observamos pessoas criativas e acreditamos que possuem um dom, que nasceram assim ou que são iluminadas e especiais, porém, quando compreendemos como se dá o desenvolvimento da competência criativa, percebemos que não tem nada a ver com tudo isso. A criatividade surge de um processo estruturado, que pode ser aprendido e treinado, e que não precisa contar com sorte, magia ou inspiração divina. Como disse Steve Jobs, “Tudo o que você chama de vida foi criado por pessoas que não são mais espertas que você!”.
A criatividade é sobre conectar ideias e transformá-las em algo novo, a partir da identificação de padrões, muitas vezes ocultos e pouco óbvios, para construir soluções ou produzir algo original. Essa habilidade tem duas principais etapas: pensamento e produção. Isso quer dizer que se tivermos ideias, mas não agirmos sobre elas, estamos sendo apenas imaginativos, no entanto, não estamos criando nada.
Já percebeu que uma boa ideia pode surgir a qualquer hora e lugar? Mas isso não significa que ela brotou do além. Nosso inconsciente age o tempo todo, criando conexões entre temas e vivências que, a princípio, parecem não ter nenhuma relação. As ideias passam por um processo de gestação, mesmo que nem sempre estejamos cientes disso, e normalmente se constroem da união de diversos pensamentos soltos.
O que muita gente ignora é que existem maneiras de se treinar a competência criativa e que, se não fizermos nada a respeito, ela vai se perdendo com o passar dos anos. O cientista George Land realizou um estudo com 1.600 crianças de 5 anos de idade, no qual 98% foram classificadas como gênios, com processos de pensamento criativo similar aos de grandes nomes como Einstein, Mozart e Picasso. Essas mesmas crianças foram testadas novamente aos 10 anos de idade e esse número caiu drasticamente para meros 30%. Aos 15 anos, os resultados chegaram a 12%. Posteriormente, ele aplicou o mesmo teste em 280 mil adultos e o número de gênios criativos encontrado foi alarmante: apenas 2%.
Mas, por que isso acontece? A vida adulta traz uma série de responsabilidades e pressões, que nos mantém ocupados (e muitas vezes ansiosos e estressados). Nosso tempo está constantemente preenchido por tarefas e obrigações, que muitas vezes nem têm significado para nós e, mesmo assim, seguimos executando como robôs e sufocando a nossa capacidade criativa. Como propõe o sociólogo italiano, Domenico De Masi, o ócio é um tempo livre que nos ajuda a renovar o foco (que é um elemento essencial à criatividade).
É importante não confundir ócio com preguiça ou procrastinação, que são verdadeiros inimigos da criatividade. O tempo livre é para ser usado com sabedoria, sendo um momento de esvaziar a mente, renovar energias e até estimular o cérebro de outros modos. O ócio criativo tem a ver com explorar novos conteúdos e isso passa por vivências como ir ao cinema, conversar com os amigos numa mesa de bar, ir à praia, fazer exercícios, ouvir um podcast, etc. O principal é a vinculação entre a atividade prazerosa e o contato com novos estímulos. A criatividade está muito associada a repertório, por isso, é importante expandi-lo o tempo todo. Já se sabe que somos seres que podem aprender ao longo de toda a vida, então para que estagnar?
Quanto maior a diversidade de experiências, maior também será a nossa capacidade criativa.
Outra questão importante para o desenvolvimento da competência criativa é nos comprometermos com atividades que nos motivem, que gerem prazer, nas quais vejamos propósito e significado. Como observou o psicólogo húngaro, Mihaly Csikszentmihalyi, quando estamos completamente engajados na criação de algo não prestamos atenção às sensações corporais ou a nossos problemas. Ficamos em um estado de completa entrega, totalmente presentes e hiper concentrados, ao qual ele denominou de flow.
O estado de flow é o que o autor chamou de a experiência ideal, que nos permite unir prazer, produtividade e eficiência. São atividades que nos dão alegria e satisfação, que até nos fazem esquecer de necessidades biológicas, como fome e sono e, muitas vezes, perder a noção do tempo, transformando minutos em horas de dedicação.
Para que se possa atingir esse estado, a tarefa deve ser extremamente recompensadora, ter objetivos claros de evolução e estar à altura das nossas competências. Quando nos engajamos com tarefas simples demais, perdemos o interesse e ficamos entediados. Já quando o oposto ocorre e a atividade está muito acima do que somos capazes, os sentimentos mais comuns são os de ansiedade e frustração. Por isso, é essencial nos prepararmos para tudo o que nos propusermos a realizar.
O que podemos fazer para estimular a nossa capacidade criativa?
Existem algumas dicas bem simples que podem ajudar:
E aí, bora colocar em prática?
Por Renata Meireles
Fonte: Rh Pra você