Se pensarmos que a revolução industrial levou 150 mil anos para acontecer e que, de lá para cá, apenas 200 anos se passaram, teremos a exata noção de como o mundo se renova, nessa era digital, cada vez mais rápido. Em cerca de 20 anos, chegaremos à era pós-digital, na qual a modernização tecnológica alcançará níveis surpreendentes – e precisamos estar preparados para esse momento. É importante refletir sobre as pessoas, nesse contexto, porque essa mudança instantânea não acontece com elas – independentemente da posição hierárquica que elas ocupem.
O principal executivo da empresa precisa ser o líder dessa mudança, é ele que tem a função de utilizar o arcabouço tecnológico a favor do aumento de marketshare, de produtividade. Mas, como fazer esse processo de transformação?
Para começar, quando o principal executivo da empresa encara o desafio de ser o norte, o agente transformador da cultura da companhia, ele tem que pensar na estratégia que a levará ao encontro das metas e objetivos dessa mudança cultural, sendo firme em seu propósito e leal ao que diz, tendo atitudes 100% condizentes com seu discurso.
Satya Nadella, CEO da Microsoft, foi considerado o melhor CEO dos Estados Unidos, em 2018, após levar a empresa a uma mudança cultural, por quatro anos. Ele foi eleito a partir de uma pesquisa realizada pelo site Comparably.com, uma ferramenta que reúne informações de funcionários de empresas para divulgar as condições de trabalho nessas companhias. Nadella alcançou notas incríveis dos colaboradores da Microsoft – e foram milhares deles que participaram da pesquisa. Quando o executivo assumiu a empresa, em 2014, ela estava em uma curva descendente de crescimento, perdendo mercado para sua principal concorrente, a Apple. Dependia quase que exclusivamente do Windows para alavancar faturamento e não conseguia emplacar outros produtos. A partir da gestão de Nadella, a companhia deu uma guinada, lançando produtos e os conceituando no mercado, bem como mudando totalmente a cultura da companhia. Os resultados apareceram: as ações da empresa se valorizaram em 214% de 2014 a 2019 e a empresa já não depende exclusivamente do Windows para sobreviver, porque tem produtos bastante lucrativos agora, como o Surface e o LinkedIn, além de estar apostando na repaginação de outros, como o Edge. O indiano Nadella provou que o principal executivo da empresa é capaz de levar toda a companhia a cumprir um objetivo que beneficie a todos – desde que bem direcionados.
Para acompanhar o executivo da empresa nessa caminhada, pode ser necessário criar um plano individual de treinamento intelectual e cultural dos demais executivos da companhia, porque cada um está no seu próprio processo de desenvolvimento de percepção da mudança. Nesse processo, uns aceitarão mais o novo momento, outros, menos – e será provável um ajuste na estrutura para manter aqueles que aderirem à cultura que se deseja ter daí para a frente.
A Gerdau, gigante brasileira do aço, está fazendo isso. Em recente palestra, Gustavo Werneck, assumiu a empresa em 2016 e conta que passou a pensar em como uma companhia de economia real passaria a lidar com um mundo em que somos cada vez mais digitais. Ele, então, convidou todo o time a colocar em prática mudanças na formação da equipe de analistas e cientistas de dados, a partir de uma escola criada especialmente para essa finalidade. A ideia é utilizar a inteligência artificial para gerar resultados nas áreas administrativas, que se refletem na área industrial. Uma série de mudanças foi ocorrendo e, nesse processo, foi preciso trocar mais de 40% da liderança, porque, segundo o executivo, muitas delas não se adaptaram à nova cultura que surgia. A Gerdau está no caminho de sua mudança cultural e admite que não é um processo fácil – mas, está satisfeita com o resultado, porque vê um futuro promissor a partir dessas ações.
Pensar que as pessoas precisam de tempo e preparo para que a mudança cultural da companhia aconteça é respeitá-las, sem perder o dinamismo que a decisão da mudança pede. E investir no aprimoramento das competências para a entrega dos resultados desejados, diante das necessidades e expectativas dos acionistas, também é uma forma de se cumprir o desafio de implantar essa mudança. Quando o principal executivo da empresa assume esse papel e envolve os agentes necessários para o apoiar, certamente ele conquista resultados valiosos.
*Marcelo Tertuliano é mestre em Administração de Empresas, com 24 anos de experiência na função financeira, dos quais, 16 anos em posições de liderança. Atualmente está à frente da área financeira de uma grande mineradora brasileira atuando em Moçambique.
Fonte: Administradores
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