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Invista em empresas que atendem às necessidades das pessoas que estão frustradas, diz Ashton Kutcher

Invista em empresas que atendem às necessidades das pessoas que estão frustradas, diz Ashton Kutcher

9 de setembro de 2020 / Consultoria / por Comunicação Krypton BPO

Ator e investidor tem em seu portfólio empresas como Uber, Airbnb, Skype e Spotify

Com diversos filmes e séries de sucesso internacional na carreira, Ashton Kutcher divide seu tempo entre a vida de ator em Hollywood e o mundo dos negócios, com foco no investimento em startups.

Durante o evento Master Trader By Clear, promovido pela Clear Corretora, do grupo XP Inc., ele contou como aprendeu a investir, sua relação com startups da área de tecnologia, o que leva em consideração antes de decidir quando aportar dinheiro em um negócio e quais são as suas inspirações e seus mentores, além de dar dicas para investidores iniciantes.

Como investidor, Kutcher assumiu ser um entusiasta de novas ideias e afirmou que procura investir em empresas que gerem soluções que resolvam os seus problemas e os de outras pessoas. Uber, Airbnb, Skype e Spotify são algumas das companhias do portfólio do ator americano, que é co-fundador de dois fundos de investimentos: o A-Grade Investments e o Sound Ventures.

O ator também contou sobre a experiência de ter vivido Steve Jobs, um dos fundadores da Apple, nos cinemas e como isso inspirou sua atuação como investidor.

Confira a seguir os destaques da participação de Ashton Kutcher no Master Trade:

Quando começou a investir no mercado de ações, você teve o apoio de outros investidores?

Na verdade, não invisto na bolsa, invisto em empresas privadas que não estão listadas na Bolsa, porque eu não entendo nada de mercado de capitais e tenho zero de conhecimento nisso, tenho como base investir naquilo que a gente conhece. Eu invisto em empresas privadas que estão no seu estágio inicial.

Tive mentores extraordinários. Começando com Ron Conway, um investidor anjo muito conhecido que me colocou debaixo de suas asas e me mostrou o caminho. Mark Cuban, Marc Andreessen, e meus sócios Guy Oseary e Ron Burkle também tem sido mentores para mim o tempo todo.

Também tenho mentores invisíveis, que nem sabem que são mentores porque leio muitos livros escritos por grandes investidores, tentando aprender constantemente.

Mas alguns dos melhores mentores que tive foram os fundadores das empresas nas quais investi. Talvez eles nem saibam que foram mentores para mim, mas aprendi muito sobre o negócio deles e outros negócios com os fundadores das empresas que invisto.

Em 2011, você se tornou o co-fundador da A-Grade Investments e seu fundo de investimento tem no portfólio empresas como a Airbnb e Uber. Você acredita que está à frente do tempo? Sempre em busca de tendências do mercado de alto desempenho como investidor? Quais são suas inspirações nesse processo?

Tudo o que eu procuro fazer é achar empresas que resolvam os meus problemas e os problemas das outras pessoas, investindo em empresas que gerem essas soluções.

Sou um entusiasta, gosto de experimentar coisas novas. Existe um ditado nos EUA que diz “eat your own dog food” (coma sua própria comida de cachorro, em tradução livre), e eu tento fazer isso com todos os produtos nos quais invisto, realmente procuro usá-los e torná-los parte da minha vida e ver ser eles agregam valor, se essa troca de valor é justa.

Sendo um entusiasta, sempre imagino o que pode ser possível com aquele produto. É aí que eu entro em sintonia com os fundadores.

Mas acho que, de certa forma, você nunca quer estar à frente do seu tempo. Você quer é estar no tempo certo. E muitas das coisas legais que são feitas, na verdade existe uma janela de tempo de cinco anos onde elas poderiam ser criadas nesse tempo e se tornarem um sucesso. Mas às vezes a infraestrutura não existe, o terreno competitivo é muito íngreme ou, em alguns casos, o produto não tem mais nenhum valor.

Por exemplo, muitas empresas criaram um software para web e depois tentaram transformá-lo em um software mobile e ficaram batendo com a cabeça na parede porque se anteciparam e depois não conseguiram mudar. Vimos a explosão da internet móvel com os smartphones na mesma época que eu comecei a investir. Muitas empresas que foram criadas não poderiam ter sido criadas antes porque nem todo mundo tinha um GPS no bolso, nem um meio de pagamento no bolso, nem todo mundo tinha comunidades conectadas com todo mundo que conheciam ali dentro.

Então, algumas empresas não poderiam ter sido criadas antes disso. Se você tentasse criá-las hoje, talvez não funcionasse. Porque o tempo passou.

Sobre procurar por tendências, bem, não saio por aí procurando. Apenas ouço e as tendências estão lá. Não são minhas tendências, são tendências que já existem. E, em geral, elas estão lá gritando para você através de pessoas que estão infelizes, irritadas ou frustradas e, se você ouvir e tiver empatia, o que elas estão tentando dizer com a raiva e a frustração é “Ei, tem uma tendência aqui.

Alguém precisa criar alguma coisa para resolver esse problema”, e isso tende a ser o terreno fértil que os grandes fundadores identificaram para sua construção.

Então, o que me inspira é tornar melhor a vida das pessoas e investir em empresas que atendem às necessidades das pessoas que estão frustradas.

Você e seu parceiro, Guy Oseary, lançaram um outro fundo chamado Sound Ventures. A proposta é fazer investimentos maiores em startups que estejam em estágios mais avançados. Tem muita coisa acontecendo no mundo agora. O que você procura ao investir nesse momento?

Antes de qualquer coisa eu olho para uma ideia ousada, algo que quando você finalmente entende, você grita: “Como isso ainda não existe? Como é que alguém ainda não criou isso!”. Isso, provavelmente, seria a primeira coisa.

Acredito em fundadores com essa obsessão de criar uma coisa que tenha um propósito, fundadores que superaram grandes obstáculos para chegarem onde estão, claramente tendo coragem, pessoas que, quando você está com eles numa reunião, você fica pensando “eu tenho que trabalhar com essa pessoa”.

Procuro coisas que funcionem economicamente. Porque, no final das contas, você não está só investindo numa ideia, está investindo em um negócio e o negócio tem que ser um bom negócio.

Procuro defensibilidade, algo nessa empresa que mostre que vai ser difícil outra pessoa fazer ou destruir. E procuro eficiência, pessoas que saibam ir atrás e apresentar soluções mais rápidas e economicamente eficazes do que qualquer outra pessoa.

Isso seria a matriz holística, mas como digo sempre, aí entra a parte mágica – ou seja, tem o acaso e o momento do mercado, as pessoas que estão em volta da mesa, que estão trabalhando com eles, os funcionários que eles têm, quão felizes os clientes estão quando usam o produto.

A gente quer que o cliente sinta que está recebendo muito mais do que ele está dando para essa equação, porque quando entramos como investidores, sentimos que essa marca agora nos representa e que essa marca está alinhada com as responsabilidades que assumimos.

Você interpretou Steve Jobs em um filme de 2013 e estudou o empresário extensivamente. Essa pesquisa também ajudou você a se inspirar como investidor-empresário?

Dediquei horas para aprender tudo o que podia sobre Steve Jobs. Na verdade, se você olhar para minha imagem no computador, para o meu agasalho, são algumas coisas da Apple, do logo original da Apple, e quando percebi deixei assim mesmo. Tenho certeza que sofri a influência ao interpretar aquele personagem, de forma subconsciente sem nem mesmo me dar conta.

Acho que a maior coisa que aprendi interpretando esse personagem foi o quanto ele se preocupava com seus consumidores. Ele achava que sua busca era tornar seus produtos extraordinários por causa de tudo o que sentia pelo potencial de seus consumidores.

Aprendi que os grandes fundadores são obcecados por aquilo que criam. Ele tinha foco e atenção naquilo que estava construindo, e isso me ensinou a trabalhar com pessoas que tivessem aquela mesma obsessão pelo que estavam criando.

Mas eu gostaria de falar uma coisa sobre Steve Jobs. Nunca me encontrei com ele, não o conheço, mas uma coisa que aprendi e eu venho me fazendo essa pergunta com frequência nos últimos anos: se o Steve Jobs fosse fundar alguma coisa hoje será que ele teria sucesso fundando uma empresa?

Porque quando vemos a transparência dentro dessas empresas gigantes criando muito barulho e comoção sobre várias questões políticas, vários movimentos sociais, eu me pego pensando se o Steve, com seu temperamento, teria lidado com essas coisas da maneira correta porque ele é bem conhecido por, na falta de uma palavra melhor, um babaca, mas um babaca que todo mundo quer seguir.

E eu vi outros fundadores que tomaram esse caminho no mundo das startups de hoje, desmoronarem, talvez porque não fossem tão brilhantes como o Steve, mas pode ser também porque essa geração de criadores e de pessoas trabalhando para empresas podem não estar dispostas a aceitar esse feedback tão franco.

O que você acha mais desafiador? Hollywood ou investir?

Um dos meus mentores me disse logo no começo, eu digo para todo mundo que quer ser rico e famoso para tentar ser rico primeiro. A fama tem seu preço que é abrir mão do seu anonimato e quando você deixa de ser anônimo, já era, não tem como voltar atrás, e poder sair andando por aí livremente como uma pessoa anônima, às vezes, é um benefício.

Eu também acho que além disso, quando você ganha fama, em geral, embora ela traga vantagens extraordinárias, você se torna um alvo e cada movimento que você faz é visto com um olhar crítico e muitas vezes, outras coisas que você faz são julgadas de forma muito crítica por causa da sua fama.

Quanto ao trabalho em si, eu acho que, no fundo, os dois são meios de contar história. Eu acho que o cerne desses dois setores, as empresas extraordinárias que são criadas, são histórias lindas no final das contas. E as mídias extraordinárias que são feitas são histórias incríveis e as duas impulsionam as pessoas e moldam a vida das pessoas.

Alguém me disse uma vez que Hollywood sonha em como será o futuro e que o Vale do Silício vai lá e constrói. E eu me deparei com essa semelhança muitas vezes e acho que os dois são desafiadores, os dois são extremamente gratificantes quando você consegue ter sucesso com eles.

Qual você considera seu melhor investimento até o momento e depois de 10 anos ou mais como investimento muito bem sucedido? O que você mudou na forma de investir ou no que você procura?

Eu diria que o melhor investimento de todos os que eu fiz foi no conhecimento, porque ninguém pode tirar isso de você. Quando você aprende e busca constantemente novas ideias, é muito gratificante. Investir meu tempo e energia na minha família, as recompensas que eu ganho com isso todos os dias são exponenciais. Minha saúde, a gente só tem uma vida, pelo que sabemos, e investir na sua saúde é amar a sua vida e eu não quero que tirem isso de mim. Meus amigos e meus relacionamentos.

Esses foram os investimentos mais valiosos que fiz e continuarão sendo assim. Você não consegue me dar o nome de uma grande empresa que já existia há 200 anos cujos retornos sobre o investimento tenham sido tão valiosos como os relacionamentos que falei, para que eu dê tudo o que tenho. Porque nenhum dinheiro pode substituir essas coisas.

Algumas lições que aprendi, e, a propósito, investindo nas empresas, acabei criando relacionamentos fantásticos e isso é muito mais valioso do que qualquer retorno financeiro. Eu aprendi a trabalhar com urgência, como se alguém estivesse te perseguindo, mas não com pressa. O que quero dizer com isso é não apressar as coisas de modo a causar falhas no trabalho. E como parte disso eu aprendi a filosofia de que se eu não tenho certeza de alguma coisa, se não me sinto confiante sobre alguma coisa, não tem pressão, entende? Não é aquela coisa de “o pregão está fechando e temos que agir.”

Nós podemos trabalhar no nosso ritmo e fazer nosso trabalho com cuidado. Eu aprendi que os influenciadores precisam de público, mais do que o público precisa de influenciadores. Muitas vezes as pessoas acham que se você tiver um influenciador usando sua plataforma, que de repente vai aparecer um monte de gente querendo estar no mesmo lugar que ela está, mas a verdade é que se esse influenciador não tiver um público formado, ele não vai ter ninguém para quem falar e portanto, não terá nenhuma influência.

Você pode conseguir umas cinco pessoas famosas para fazer parte da coisa, mas se elas não tiverem um público, não terão para quem falar, não será sustentável. E acho que umas das maiores coisas que aprendi foi que nada disso tem importância se você não for gentil com as pessoas. Você pode ter o sucesso que quiser, ter o dinheiro que quiser, construir a coisa mais sensacional do mundo, mas se no seu íntimo, se você não for gentil com as pessoas, não for atencioso com as pessoas, você terá uma coisa muito superficial.

Como você acha que a tecnologia pode ajudar a humanidade? Você é um grande investidor na experiência humana. Qual é a sua responsabilidade como investidor para garantir que haja tecnologia para sempre?

Acho que é responsabilidade de todos e não só dos investidores. É responsabilidade dos consumidores, dos construtores, dos investidores. Eu acabei investindo em tecnologia, e a tecnologia rapidamente se tornou a espinha dorsal de qualquer indústria.

Eu acredito muito que a tecnologia é apenas uma ferramenta. Penso nela como penso um martelo. Eu me lembro que quando eu era criança, meu pai era telhadista, e eu ia para a obra com ele e ajudava a colocar as ripas do telhado. A gente colocava as ripas no telhado, alinhava e ia com o martelo pregando as ripas. E a gente levava um dia para fazer metade do telhado. Voltava no dia seguinte para fazer a outra metade e terminava o trabalho. E eu me lembro do dia que fomos para a obra e tinham acabado de lançar a pistola de pregos. Uma pistola de ar comprimido, com um cabo, um tubo, você colocava os pregos lá dentro, e era só colocar a ripa e pronto! E naquele dia conseguimos fazer todo o telhado da casa em um dia.

A tecnologia é direcionadora da mudança, o software em particular, direciona a mudança, a eficiência com que as pessoas realizam um trabalho, ou se comunicam, ou consumem conteúdo, e por aí afora. Todas essas diversas coisas. É uma ferramenta que cria eficiência. Mas quando você cria eficiência, em qualquer coisa, você não cria eficiência apenas para pessoas boas, você também cria eficiência para pessoas más. Muitas pessoas gostam de culpar a tecnologia pela forma errada com que as pessoas a utilizam, mas a questão é, se você é uma pessoa boa, uma pessoa bem-intencionada, às vezes é até difícil imaginar como as pessoas usariam uma ferramenta como essa.

Se alguém comete um assassinato com um martelo, ninguém sai por aí dizendo que a gente não pode mais ter um martelo com garra porque as pessoas usam a garra do martelo para matar gente. E isso não é bom. Eles não vão atrás do fabricante de martelo, e sim da pessoa que cometeu o crime. E o que vemos hoje é que as pessoas usam as ferramentas da tecnologia para cometer crimes, e fazem coisas terríveis que nunca tínhamos imaginado.

Existem duas formas de lidarmos com isso. Podemos ir atrás das empresas que criam a tecnologia, que criam as ferramentas que as pessoas usam de forma errada, ou podemos criar limites que impeçam que essas ferramentas sejam usadas incorretamente e investir nas empresas para que elas consigam fazer isso.

Um dos exercícios que fazemos como investidores, quando analisamos uma empresa, é pensar em todas as coisas que podem dar errado. Todas as coisas que podemos pensar que possam fazer com que as pessoas façam mau uso da plataforma. Estamos fazendo tudo o que podemos para dar a você os recursos, capital, ferramentas e pessoal para que você possa garantir que essas coisas que imaginamos não aconteçam. E estamos dispostos, como empresa, a tomar uma posição quando acontecerem coisas que nunca imaginamos?

Pessoalmente, acho que a melhor forma de atacar isso é construir as ferramentas mais seguras que pudermos e dá-las para pessoas responsáveis, usar a segurança apropriada para que somente as pessoas responsáveis tenham acesso a essas ferramentas e usar a tecnologia para lutar contra os contraventores. O futuro pode ser extraordinariamente brilhante desde que acreditemos que existem pessoas boas no mundo, o que nos leva a avaliar as pessoas que dirigem as empresas quando decidimos investir nelas.

Qual conselho que você daria para quem está começando a fazer seus investimentos?

Bem, isso nos leva de volta à pergunta que você fez que é investir no que você conhece. Conhecer aquilo que você não conhece. Acho que todo mundo tem histórias, e todo mundo vem de algum lugar. E o que torna você uma pessoa única são suas experiências pessoais que ajudam a formar a sua perspectiva.

Eu tenho um primo que mora no interior dos EUA, numa área rural, e ele trabalha num mercado. E ele sempre me pergunta onde investir. E eu sempre digo para ele, você trabalha num mercado, você sabe exatamente quais produtos deve ter na prateleira. Assim que o produto chega na prateleira, alguém compra.

Isso é uma informação muito importante que você tem e que outras pessoas não têm. Você é que pode me dizer onde investir, que produtos vendem mais e com base nos obstáculos que as pessoas superaram durante a vida, com base nos desafios e percalços que tiveram, nos problemas que querem resolver, isso vai te levar às empresas que podem ser de interesse.

A maneira como comecei a investir foi através da minha produtora. Nós tínhamos uma noção, isso foi há 20 anos, tínhamos uma noção de que todo o conteúdo que estávamos criando iria se tornar conteúdo digital e que seria consumido em plataformas digitais. Como resultado disso, começamos a procurar empresas que poderiam ajudar a distribuir conteúdo digital e quantificar se o desempenho daquele conteúdo seria bom no digital, e ligar aquele conteúdo a anunciantes em várias plataformas.

Essa foi a minha estratégia para investir em empresas de tecnologia. E foi assim que investi em empresas como Skype, porque foi uma das primeiras plataformas de vídeo ao vivo que eu achei que poderia fazer transmissões e ser confiável para fazer transmissões.

Tem uma empresa chamada Optimizely, uma das maiores empresas de plataformas de teste A/B no mundo, e isso acabou levantando meu interesse no Twitter como uma avenida de distribuição de conteúdo que, por sua vez, levantou meu interesse em muitas outras empresas.

Portanto, siga a sua paixão, siga o problema que você precisa resolver e invista naquilo que você conhece. Isso fará com que você construa seu aprendizado, seu conhecimento e daí poder investir em qualquer coisa.

Fonte: Infomoney

Imagem: Foto reprodução/arquivo pessoal

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