Apesar do crescimento, as mulheres na tecnologia ainda são minoria. É uma área de atuação ainda predominantemente masculina e com pouco incentivo à qualificação feminina.
As dificuldades já começam no momento de decisão pela carreira, pois elas não são encorajadas a seguir profissões em tecnologia. Além disso, a falta de representatividade e as poucas oportunidades em ambientes inclusivos também geram consequências negativas.
Mas, mesmo com todas as adversidades, neste artigo você poderá entender os avanços que estão acontecendo e como é possível promover maior diversidade na tecnologia para abrir espaço para mais mulheres atuarem na área.
Qual é o contexto das mulheres na tecnologia?
A quantidade de oportunidades na área de Tecnologia da Informação (TI) é muito grande e, portanto, contar com a participação de mais mulheres é fundamental. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), apontou que, até 2024, é estimada uma lacuna de 270 mil profissionais de TI, o que irá provocar uma perda de receita em torno de R$ 167 bilhões.
Segundo a pesquisa Women in Technology, da Michael Page, as principais razões por trás do baixo número de mulheres líderes de tecnologia são:
• 38% – falta de inscrições por parte das mulheres;
• 37% falta de oportunidades para as mulheres;
• 25% – escassez de talentos femininos com o conhecimento exigido;
• 17% – falta de experiência necessária para ocupar o cargo.
Mesmo com todas essas adversidades, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apontou que a participação das mulheres cresceu 60% nos últimos cinco, passando de 27,9 mil para 44,5 em 2019. No entanto, o avanço ainda é tímido e elas representam somente 20% dos profissionais de tecnologia do país.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a tendência é que, em 10 anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho deve crescer mais do que a dos homens em diversos segmentos, entre eles, ciência e tecnologia.
Um ponto fundamental é que as empresas precisam se lembrar de que equipes diversas geram soluções mais diversas e eficazes, o que tem o potencial de proporcionar muito mais rentabilidade para o negócio. Por isso, incentivar a atuação das mulheres na tecnologia é benéfico para todos os envolvidos.
Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres?
As barreiras existem e precisam ser superadas. Para a mulher, infelizmente ainda é muito mais difícil se firmar na área de tecnologia. Entre os principais desafios enfrentados, estão:
Falta de incentivo
O problema, como já mencionado anteriormente, começa na escolha da graduação: por mais que 60% dos formandos do ensino superior no Brasil sejam mulheres, somente 23,9% delas se formam em cursos de engenharia.
Quando pensamos em tecnologia, ainda há uma associação direta ao homem branco, nerd e milionário. As mulheres, portanto, não costumam se enxergar em uma posição dentro desse universo. Normalmente, são associadas às áreas de marketing e comunicação, enquanto o homem é associado às áreas de construção, o que afasta a entrada delas no ramo.
Autoexigência feminina
Visto que o setor de tecnologia dominado por homens, as mulheres que optam por seguir essa carreira acabam sendo muito mais exigentes consigo mesmas e cultivam a mentalidade de que precisam sempre se provar boas o suficiente, o que atrapalha a autoestima.
Os dados não mentem: elas tentam 20% menos vagas do que os homens porque entendem que precisam cumprir 100% dos requisitos. Os homens, por sua vez, costumam se candidatar cumprindo apenas 60% dos requisitos.
Diferenças de salários
De acordo com a empresa de recursos humanos, Revelo, a diferença de salários entre homens e mulheres na área de tecnologia era de 22,4% em 2017 e passou para 12,4% em 2019. Para se ter uma ideia dos números, a média das propostas de remuneração das mulheres em 2019 foi de R$ 5531,00, já a dos homens foi de R$ 6829,00.
Esse tipo de disparidade gera frustração e desmotivação, afinal, é muito difícil para as mulheres aceitarem que independentemente da dedicação e qualificação, já sairão ganhando menos.
Falta de representatividade
São poucas as mulheres que são referências em tecnologia, o que também contribui para que muitas meninas que se interessam pela área não se sintam encorajadas. O fato de o setor com muito mais homens e existirem várias dificuldades para as mulheres se firmarem faz com que boa parte desista de seguir carreira.
A representatividade é fundamental para que elas sintam que é possível chegar lá e mudar essa realidade, por isso, a luta das mulheres pela causa é muito importante.
Preconceitos
Por fim, assim como em todo o mercado de trabalho, na área de tecnologia as mulheres também precisam lidar constantemente com os preconceitos. Elas ainda são tidas como o “sexo frágil” e características como a sensibilidade são analisadas sob um viés negativo por muitas empresas.
Como promover a inclusão das mulheres na tecnologia?
Para garantir a diversidade na tecnologia, é preciso que vários tipos de ações sejam executadas, começando pela educação até o dia a dia de trabalho nas empresas. Confira alguns exemplos:
Inclusão de assuntos relacionados à tecnologia desde cedo
É essencial que os temas que envolvem a tecnologia sejam inseridos desde cedo na educação para que as mulheres se interessem pela área e sintam que não estão sozinhas nessa jornada. Não podemos mais fazer divisões entre o que são “trabalhos de meninos e de meninas”, todos precisam ter as mesmas oportunidades e se sentir confiantes para trabalhar naquilo que desejarem.
Acesso à informação e qualificação
O acesso à informação de qualidade sobre tecnologia pode fazer a diferença, tanto para despertar o interesse das mulheres como para tirar dúvidas sobre o setor. O portal “Mulheres na Computação” foi um dos pioneiros sobre o assunto e traz muitos conteúdos interessantes,
A qualificação também é fundamental e iniciativas que visam oferecer oportunidades para as mulheres são muito importantes para acelerar a inclusão. Uma parceria entre a Catho e a Let’s Code, escola de programação para desenvolvedores, foca em contratar cada vez mais mulheres no segmento.
Para isso, ofereceram 25 vagas para um curso gratuito voltado para as mulheres. Com duração de 8 meses, o foco é aprender a programar por meio de aulas ao vivo e online, além de ter acesso à capacitação voltada para as soft skills necessárias para atuar na área. Além disso, em 2020 a Catho criou o “Essa cadeira é minha”, um projeto com foco na inserção de mulheres em tecnologia por meio de mentorias, capacitação e empregabilidade.
O Google, por sua vez, tem um compromisso com a promoção de um ambiente de trabalho mais diverso e conta com iniciativas como o “Cresça com o Google”, um programa de capacitação profissional gratuito. No Brasil, desde 2017 disponibilizam treinamentos especialmente para mulheres. O programa conta com uma etapa, “Cresça com o Google para Mulheres na Tecnologia”, que aborda os desafios na área, como aplicar as habilidades na prática e oportunidades no mercado.
Além disso, para incentivar as jovens mulheres a seguir carreira na programação, o Google também promove o “Change the game”.
Criação de comitês dentro das empresas
Para mudar a realidade dentro das organizações, é importante a criação de comitês que visam promover um ambiente de trabalho mais inclusivo. É necessário que novos processos, baseados na diversidade, sejam construídos. Além disso, o dia a dia deve ser propício ao desenvolvimento e crescimento de todos, inclusive das mulheres em tecnologia.
Os processos seletivos para vagas no setor, por sua vez, precisam ser revisados com o foco em aumentar a divulgação voltada para mulheres. Da mesma forma, os planos de carreira para elas também devem ser estruturados com atenção para que as mesmas oportunidades sejam dadas a todos. E, por fim, as remunerações entre homens e mulheres de tecnologia também precisam ser igualitárias.
Exemplos de mulheres bem-sucedidas na área
Apesar da representatividade feminina na tecnologia ainda ser baixa, existem algumas profissionais no mercado que conseguiram alcançar posições de destaque. Vamos terminar este artigo com alguns exemplos inspiradores:
Camila Acchuti
Formada em Ciência da Computação pela USP, Camila é fundadora da MasterTech, uma plataforma de educação de habilidades do século XXI. O objetivo da empresa é, por meio de eventos, workshops e outras frentes de atuação, ensinar de maneira mais dinâmica de acordo com os padrões da sociedade.
Antes disso, ela fez um estágio no Google da Califórnia e trabalhou para a Iridescent Learning, uma ONG internacional de educação à distância que tem como objetivo educar, principalmente meninas, para que elas se transformem em líderes por meio da tecnologia e da engenharia.
O currículo da Camila também passa por ter sido professora no Insper e ter obtido seu mestrado na USP e ser doutoranda na Escola Politécnica da USP também. Além disso, foi selecionada pela Forbes como um dos 5 talentos brasileiros em tecnologia com menos de 30 anos e como uma das 100 líderes do amanhã, representou o Brasil no Simpósio d e St. Gallen.
Para completar, é criadora do portal “Mulheres na Computação”, que é uma das primeiras e maiores iniciativas voltadas para a inclusão das mulheres na tecnologia contemporânea.
Miriam Oshiro
É fundadora da OriginalMy, uma startup que atua em um dos setores mais importantes: o de segurança de dados, privacidade e informações. Miriam afirma que, ao longo da sua carreira como empreendedora, muitas pessoas duvidaram que ela entendesse de tecnologia, principalmente pelo negócio da sua empresa se tratar de blockchain, uma solução ainda com poucos exemplos de uso no nosso país.
A OriginalMy já foi premiada e reconhecida internacionalmente nos últimos anos. Além disso, devido ao impacto social que tem causado, foi reconhecida pela ONU, pela União Europeia e pelo Google. Também foi citada em vários trabalhos acadêmicos pelo mundo e convidada pelo governo da Estônia para apresentar suas soluções para governança digital.
Nina Silva
Nina Silva é uma executiva de TI considerada uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo. Além disso, é sócia fundadora do Movimento Black Money, que tem como objetivo o desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor.
O projeto já conta com uma fintech chamada D’Black Bank, que fornece crédito aos empreendedores negros. Formada em administração, Nina atuou por muitos anos na área de TI, com passagem por empresas como Hasbro, Honda e L’Oréal.
Todos saem ganhando com mais mulheres na tecnologia
Segundo uma Pesquisa da Aliança Mundial de Informações sobre Tecnologia e Serviços, 9 trilhões de euros no PIB global podem ser gerados com uma participação maior das mulheres na indústria de tecnologia.
Por isso, todas as iniciativas voltadas em prol deste objetivo são fundamentais para promover a equidade de gênero e, é claro, garantir o crescimento das empresas.
Fonte: Vittude