Diariamente, são registrados pelo menos 366 crimes cibernéticos em todo o país. O levantamento mais recente, feito em 2018 pela associação SaferNet Brasil, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), contabilizou 133.732 queixas de delitos virtuais, como pornografia infantil, conteúdos de apologia e incitação à violência e crimes contra a vida e violência contra mulheres ou misoginia e outros. Em comparação ao ano anterior, a quantidade de ocorrências deu um salto de quase 110% — em 2017, a associação registrou 63.698 denúncias. Um fator que contribui para a ação criminosa, na visão de especialistas, é o descuido da população quanto à utilização de ferramentas que protejam os aparelhos celulares das invasões de hackers. Apesar de ser impossível estar 100% protegido, o mínimo de precaução pode reduzir as ameaças à privacidade de cada um.
“Utilizamos os celulares intensamente. Eles são dispositivos que contêm dados individualizados sobre o que cada um de nós pensa e como nos comportamos. Portanto, por eles serem um grande guardião de informações sobre nós mesmos, são necessários cuidados com relação à segurança deles. Vivemos em uma sociedade onde a vigilância está se incrementando”, diz o professor do Departamento de Ciências da Computação da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Henrique Fernandes.
Segundo ele, além do crescimento da quantidade de crimes cibernéticos no último ano, os recentes ataques a celulares de autoridades da República, mostram que o sistema telefônico é bastante suscetível à interceptação de mensagens.
“O sistema telefônico não garante o sigilo das comunicações de forma perfeita. O investimento das empresas tem sido mais para fazer com que o usuário não perca uma ligação ou conexão do que no sentido de impedir que essa conversa seja interceptada. Essa fragilidade é um problema mundial”, afirma. Para Jorge Henrique, atitudes mais convencionais, como a utilização de senhas para controlar o acesso a aplicações e a cópia de documentos importantes em outro dispositivo, são o primeiro passo para se resguardar da ação de invasores.
“Os aparatos tecnológicos, de fato, foram feitos para nos espionar, e o principal problema desses equipamentos é não deixar claro qual tipo de informação ele coleta do usuário. Isso é agravado pela falta de educação das pessoas sobre informática. Elas não sabem a dimensão do poder do dispositivo que têm em mãos. Por isso, é recomendável que cada pessoa que usufrui da tecnologia reflita sobre até que ponto o que ela faz virtualmente tem importância e como vai se comportar na internet”, recomenda o professor.
Consciência
Professor e advogado especializado em direito digital e proteção de dados, Fabricio Mota reforça que a tecnologia não é infalível e que está sujeita a todo tipo de vulnerabilidade. “Temos de fazer o nosso dever de casa e adotar comportamentos seguros para evitar falhas. Não conseguimos controlar a tecnologia e saber de fato se é segura. Por isso, é necessário mudar a nossa postura com relação a ela para que a maior parte da culpa de uma eventual invasão não seja nossa”, analisa. Estar consciente do risco, lembra Mota, é fundamental para que o usuário tenha noção de segurança. O conselho é válido especialmente para os brasileiros, visto que, no ano passado, o Brasil ficou entre os cinco países que mais gastam tempo usando celular, atrás de Indonésia, Tailândia, China e Coreia do Sul, segundo relatório da consultoria especializada em dados sobre aplicativos para dispositivos móveis App Annie.
Mota sugere que, ao utilizar computadores públicos, as pessoas evitem acessar redes sociais, e sempre navegar na internet em abas anônimas. Além disso, não repetir a mesma senha em vários dispositivos. Segundo ele, é recomendável um código para cada aplicação. Quanto mais difícil ele for, alternando entre caracteres especiais, números e letras maiúsculas e minúsculas, melhor.
“Senhas biométricas, que solicitem a impressão digital, uma confirmação por voz ou a leitura da íris do olho são preferíveis. O usuário tem de ser receoso. Sempre atualizar o antivírus dos seus aparelhos e usar uma rede privada virtual para filtrar as redes de Wi-Fi gratuitas. A partir do momento em que temos a percepção do risco, adotar providências para diminuir as ameaças será algo quase instintivo”, garante o especialista.
Sem preguiça
Ao incorporar esses hábitos no cotidiano, o usuário deixará de se incomodar com a quantidade de ferramentas de proteção, frisa o coordenador do curso de segurança da informação do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Francisco Marcelo Marques. No entanto, ele reconhece que um dos grandes desafios às empresas de tecnologia é conseguir gerar consumo com os níveis de segurança necessários, sem interferir na comodidade de quem utiliza os aparelhos.
“O objetivo de qualquer aplicação é facilitar a ação do usuário. Portanto, o ser humano acaba tendo um comportamento mais relaxado. Além disso, muitos acham que nunca serão hackeados, pois julgam que as suas informações pessoais não são importantes. Aí é que está o perigo. É preciso desconfiar sempre”, alerta.
Marques destaca que a disponibilidade é inversamente proporcional à confidencialidade. Ou seja, quanto maior for a segurança, a tendência é que menos algum dado confidencial esteja disponível. “É fundamental ativar todos os mecanismos de proteção que a aplicação oferece, pois existem instabilidades que fogem do nosso controle. Maior segurança significa menor conforto. A preguiça é inimiga de precaução”, finaliza.
Tecnologia para o mal
Confira dicas para se proteger de crimes cibernéticos
Fontes da matéria: professores Francisco Marcelo Marques, Fabricio Mota e Jorge Henrique Cabral Fernandes
Matéria retirada de: Msn
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