Raquel Coutto, autora do livro Efeito 1%, mostra como atitudes mínimas, consistência e ambiente certo podem destravar o potencial de líderes e equipes

No mundo corporativo, é comum encontrarmos profissionais paralisados pela falsa expectativa de que grandes resultados exigem grandes reviravoltas. Mas, segundo Raquel Coutto, treinadora comportamental e autora do livro Efeito 1% – Como pequenas ações executadas geram grandes transformações, essa lógica está ultrapassada. “A gente quer sempre arrumar uma boa desculpa para aquilo que está fazendo e que não está dando certo”, afirma. A mudança, diz ela, não vem da motivação passageira, mas da construção de hábitos consistentes.

Em entrevista ao podcast do Mundo RH, Raquel compartilhou o que aprendeu ao longo da vida — inclusive com seus próprios erros — e como criou um método baseado em seis etapas que ajudam líderes e equipes a conquistarem resultados reais, sustentáveis e duradouros. “O básico bem feito todos os dias é o que muda tudo”, defende.

De onde nasce o Efeito 1%?

“Cansei de ver pessoas — inclusive eu — reclamando da vida e não fazendo nada para mudar.” A sinceridade com que Raquel descreve sua própria jornada explica o ponto de partida do método que criou. Durante anos, ela conta que esperava o “momento certo”, o cenário ideal para agir, até entender que o verdadeiro movimento começa justamente quando paramos de esperar. “Não existe salto quântico sem o primeiro passo.”

Essa percepção deu origem ao método Efeito 1%, baseado na premissa do progresso contínuo: todos os dias, uma ação mínima que nos aproxime daquilo que desejamos. O método se traduz em seis etapas: análise, afirmação, aprendizados, ações, apoio e ajustes. E entre todas elas, uma é a mais desafiadora: analisar.

O poder (e a dor) de olhar para si

“Análise é onde líderes e equipes mais travam. Porque exige coragem”, diz Raquel. A autora defende que o primeiro passo da transformação está na disposição de olhar para a própria mentalidade, os hábitos e os padrões que não funcionam mais — sem terceirizar culpas. “Nós detestamos enxergar os nossos erros. Dói admitir que erramos, que procrastinamos, que repetimos padrões ruins.”

E no mundo corporativo, onde tantas decisões são justificadas com frases como “sempre foi assim”, essa negação pode emperrar até mesmo culturas organizacionais inteiras. Para Raquel, só avança quem tem coragem de fazer um diagnóstico honesto, sem “tampar buraco”.

Motivação passa. O que salva é a disciplina

Se o “start” vem da análise, a sustentação da jornada depende de um componente simples, mas difícil de manter: a disciplina. “Motivação é igual banho. Passa. Você precisa fazer o que tem que ser feito, com ou sem vontade”, explica. A dica prática da autora é escolher uma única ação mínima, um “1% inegociável”, que será realizada todos os dias, mesmo nos piores.

Mais do que hábitos, o ambiente também conta. “Nada sabota mais o seu resultado do que um ambiente medíocre. Você precisa andar com pessoas que querem crescer, que te puxam para cima, que te desafiam”, diz Raquel, alertando que conviver com quem vive de desculpas pode contaminar sua mentalidade.

Comunicação que transforma (ou destrói) empresas

Raquel destaca que o maior gargalo das empresas hoje é a comunicação. E não apenas a externa ou entre áreas — mas aquela interna, silenciosa, que começa na forma como pensamos. “Se você entra numa reunião achando que será horrível, adivinha como vai ser? A gente precisa treinar a mente até nos diálogos internos.”

Ela sugere mudanças práticas: trocar reclamações por sugestões, evitar frases negativas, oferecer feedbacks diretos com foco na solução. “Uma boa comunicação não é falar mais. É falar o necessário e ser compreendido.”

Grupos de apoio que provocam, não que confortam

Outro pilar do método Efeito 1% é o apoio — mas não qualquer apoio. “Uma boa rede não é a que te conforta. É a que te desafia. É a que te tira da zona de conforto”, afirma. Raquel alerta para o risco dos “mentores de frases de efeito no Instagram” e defende a busca por pessoas que já trilharam o caminho desejado.

“Mentores de verdade te cobram. Grupos sérios te confrontam. E é isso que te faz crescer. Porque motivação passa, mas o ambiente certo muda seu padrão de ação.”

Ajustar a rota é sinal de maturidade

Para aqueles momentos em que os resultados não aparecem no tempo esperado, Raquel dá um recado claro: não se trata de desistir, mas de recalcular com estratégia. “Ajustar o plano não é abrir mão da ambição. É ser inteligente. O alvo permanece. O caminho muda.”

Ela chama essa mentalidade de “jogo adulto” — uma forma madura de entender que não se trata de rigidez, mas de flexibilidade com foco.

O desafio universal de fazer o básico

Depois de aplicar o método em diversos países, Raquel reconhece uma semelhança que atravessa culturas: a tendência humana de subestimar o poder das pequenas ações. “Todo mundo quer mudança rápida. Mas a verdadeira transformação vem do 1% por dia. É o efeito composto.”

Ela cita um exemplo matemático simples:

    “1.01 elevado a 365 dias é igual a 37,38. É esse o poder da consistência.”

Por onde começar?

Para quem se sente travado, o primeiro passo, segundo Raquel, é simples: largue as desculpas e pegue papel e caneta. “Escreva qual é o objetivo mais importante que você está adiando. Clareza precede ação.” Depois, elenque um único passo que você pode dar ainda hoje. Um e-mail. Uma ligação. Um agendamento. “Não precisa ser radical. Só precisa começar.”

E você, qual é o seu 1% de hoje?

A mensagem que fica é potente e direta: não espere a motivação bater. Construa o hábito. Escolha o ambiente. Encare seus padrões. Ajuste a rota. E dê o primeiro passo. Todos os dias.

Fonte: Mundo RH