No último final de semana, estive em minha cidade natal, Rio Claro. Apesar de perto de Campinas, onde moro, fazia um mês que não dava um pulo lá para visitar meus pais. Nessa viagem, uma passagem me chamou atenção. Ao voltar com a minha filha, a pé, da casa dos meus pais à casa em que fico, deparei-me com um rapaz andarilho.

Ele logo se aproximou e comentou sobre a tranquilidade e alegria com que a Mafê passeava em seu veículo de brinquedo, um fusca. Respondi, cordialmente, que essa era uma das atividades que ela mais gostava. Em seguida, de maneira educada e atenciosa, ele me advertiu: “Fala para ela estudar, moço. Eu não estudei e olha a situação em que fui parar. Se arrependimento matasse, já estaria morto. Fala para ela que o único caminho é estudar”. Dito isso, pegou sua sacola, seu corote e voltou a caminhar.

Essa imagem me chamou a atenção. Um andarilho, sem esperança nenhuma em evoluir e se recuperar, preocupava-se em falar aos poucos que ainda o ouviam sobre a importância do estudo. Ou seja, a mensagem da importância da educação para nossa vida chega. O desafio é entender por que ela não é adotada. Quais os desafios esse senhor teve ao longo de sua vida que o levaram a fugir do destino conhecido e libertador do estudo?

Estudo é cada vez mais importante

Pensando sobre o caso durante a noite, pude imaginar o nível de desespero que deve ser o baixo letramento para enfrentar o mundo em que vivemos. É impressionante a produtividade que as tecnologias proporcionam para quem as domina. Seja o processador de texto, no qual escrevo este artigo, ou até os modelos geradores de texto, baseados em inteligência artificial. Concorrer sem a formação necessária para aproveitar o conhecimento disponível no mercado é cruel demais.

Imagino um vendedor dos anos 1980 sendo transportado para os dias atuais. Quanta coisa essa pessoa precisaria aprender para se colocar em igualdade de condições aos trabalhadores desse ofício hoje. As famosas ligações frias, que fizeram grande sucesso no passado, hoje sequer são atendidas. Para o contato, ou lança-se mão de um conhecido comum, ou se faz num sistema o fórum adequado. E tudo com a ajuda de robôs, pois o contato um a um é algo reservado a grandes contas.

O profissional da área hoje, ao conversar pela primeira vez com o potencial cliente, já realizou todo mapeamento de suas ações pelo site, redes sociais e sistemas da empresa. E tudo isso em minutos. Sem isso, ele não consegue falar no tom e com as palavras com que o “lead” deseja ser atendido. E, avaliando o comportamento da pessoa, o vendedor saberá qual roteiro utilizar e qual produto oferecer. Sem isso, a taxa de fechamento será muito baixa.

Quando, ao conversar com meu pai em 1990, imaginaríamos que a tecnologia na área avançaria para isso? E, como disse, mal conseguimos imaginar como será 2030. A única coisa que é certo é que deverei continuar seguindo o discurso simples e sincero daquele senhor das ruas: estude. A minha graduação, meu mestrado, doutorado, certificações Lean Seis Sigma e demais me ajudaram a chegar até aqui. Mas, se parar de estudar e aprender, não conseguirei chegar competitivo em 2030.

Antes dos diplomas e certificados, sou alguém que aprendeu a seguir esse conselho, dado pela primeira vez pelos meus pais: estude. E hoje, perto de alcançar os 40, posso afirmar que essa foi a melhor herança que pude receber; afinal, tudo que ganhei até agora veio do trabalho e da paixão por estudar. Sem conhecimento, não sei como estaria agora. Talvez, por sorte, pudesse até ter ganho dinheiro. Porém, tenho certeza de que seria muito mais inseguro e preocupado com o que a vida ainda me reserva.

Fonte: Administradores